Onde atualmente é o Viaduto Damasio Franca e o Ponto de Cem Réis |
Mistérios e Ironia do Destino:
Acho horrível demolir Igrejas, só se for pra construir outra no lugar. Vários
casos me chamam a atenção: demolição da
Igreja das Mercês para a criação da Praça 1817 e a Igreja de Nossa Senhora do
Rosário dos Homens Pretos (frequentada por negros escravos), sendo que esta
última foi destruída para a construção do Ponto de Cém Réis. Mas me chama a
atenção também a demolição da Igreja de Nossa Senhora da Conceição por
determinação do então Presidente da Paraíba João Pessoa, que reclamava que a
Igreja dificultava a circulação do ar lá para as bandas do Palácio da Redenção.
Por ironia, logo depois foi assassinado e hoje seu corpo ocupa aquele espaço em
um mausoléu sem direito à ventilação.
Matteo
Ciacchi, nos traz uma reflexão interessante: “o presidente João Pessoa tinha um
descaso medonho em relação ao patrimônio histórico. Acho uma carga muito
negativa pra cidade o fato de que ele tenha bancado a demolição de tantos
espaços públicos e monumentos históricos, tenha dado nome à cidade e ainda transformado
os escombros de um desses patrimônios no túmulo dele. O problema da Paraíba é
ainda dar crédito a João Pessoa (e aos seus equivalentes atuais)”.
Também foi Matteo que nos conseguiu a foto da Igreja de Nossa Senhora do
Rosário, demolida para a construção da Praça Vidal de Negreiros (Ponto de Cém
Réis) e informa que “essa é a única foto
que eu já vi que mostra a igreja (à direita, ficava bem na subida onde hoje é o
viaduto, antigamente era a ladeira do Rosário). O nome de Ponto de Cem réis vem
de quando implantaram os bondes de tração animal, e a frente da igreja era a
integração: quem fosse continuar no bonde tinha que pagar cem réis.”
Eu,
particularmente tinha uma imagem positiva do Prefeito Walfredo Guedes Pereira
antes de tomar conhecimento dessas demolições e completa Ciacchi quando o
questiono sobre o porquê esses gestores a exemplo de Walfredo e João Pessoa
terem gozado de boa imagem apesar de destruírem o patrimônio histórico: “Eu
acho que a imagem positiva de Walfredo é devida ao discurso de modernização dos
anos 20 e 30, que desfiguraram muita coisa no centro. O que se fala é que na
gestão dele a cidade virou um canteiro de obras. Pra população na época, em que
a cidade praticamente se resumia ao centro histórico de hoje, devem ter
aparecido melhorias de infraestrutura realmente positivas. Mas pra mim a prova
de que era muita retórica e pouco benefício real é o fato de que cem anos
depois o saldo final foi um centro sem infraestrutura nenhuma, atravessado por
"obras de mobilidade" que não ajudam em nada e um patrimônio
histórico plenamente esquecido. Acho que é interessante fazer um estudo
comparativo da gestão de Walfredo Guedes e de Beaurepaire Rohan. Walfredo era
de família de senhores de engenho de Bananeiras, Beaurepaire era governador
"profissional", técnico. Sei que a gestão de B. Rohan foi bem
"modernizante", mas pautada em diversos estudos técnicos únicos em
relação ao que tinha sido feito antes e ao que foi feito depois. Não sei até
que ponto eu também possa estar comprando uma imagem feita de B. Rohan, mas
vale a investigação.”
Sobre
a sugestão de Matteo, creio que não dá para “compararmos” porque Henrique de B.
Rohan foi presidente da Província da Parahyba entre 1857-1859 enquanto Walfredo
Guedes Pereira foi prefeito da capital paraibana. Sobre B. Rohan,
particularmente Rohan li dois autores
que fazem maiores referências a ele. Esses autores são José Américo de Almeida
(A Paraíba e Seus Problemas) ao informar que o B. Rohan ao se preocupar em fazer
o estudo corográfico da Província trouxe para cá o francês Jacques Brunet para
esta tarefa, mas que segundo Almeida, a maior realização foi a descoberta do então
menino de 10 anos e futuro pintor Pedro Américo e li também em José Baptista de
Mello quando escreveu sobre a História
do Ensino na Paraíba, informa que B. Rohan se preocupou com o ensino técnico na
Paraíba e que foi criado por B. Rohan para atender meninos carentes e
profissionalizá-los para serviços agrários. Para isso criou o primeiro Jardim
Botânico que ia da atual B. Rohan até o Palácio da Redenção (na verdade até a
rua Marques de Herval atual General Osório) e para isso desapropriou vários
sítios existentes.
Giovanni
Seabra em seu livro “Paraíba” nos informa que em 1923 a Igreja de Nossa Senhora
do Rosário Homens Pretos começou a ser demolida para a construção da Praça
Vidal de Negreiros. Além da Igreja,
foram demolidos 02 edifícios e 12 casas. Ainda informa que a Igreja de Nossa
Senhora do Rosário começou a ser construída em fins do século XVII e foi
concluída em meados do século XVIII.
Laura
Berquó
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