segunda-feira, 15 de setembro de 2025

O SONHO COM A BELA OYÁ

 





O SONHO COM A BELA OYÁ


Recorrentemente eu tinha o mesmo sonho: minha mãe Iansã me perseguia muito braba, com sua roupa antiga, rosa-coral, com várias saias engomadas por baixo, bordados, e com seu filá cobrindo o rosto. Alta, ligeira, passava por ladeiras e calçadas de calcário, em vias coloniais, atrás de mim.

Foram vários sonhos e na maioria das vezes eu me escondia, porque não conseguia encarar a sua fúria. Para acalmá-la, no último sonho, ia para o meio de pessoas e oferecia acarajé ao público.

Demorei a entender o porquê desses sonhos recorrentes e do medo que eu sentia da minha própria Yabá, a Bela Oyá, que por diversas vezes espantou a morte de perto de mim.

Na minha infância ela era a minha paixão, bem tudo que vibrava ao arquétipo dela. Mas a gente cresce e outras exigências nos tiram de nosso mundo imaginativo e criativo.

Creio que quando crianças, estamos mais ligados ao lado psíquico feminino. Mas a busca pela sobrevivência e a dureza da vida, das instituições, das leis, favorecem o desenvolvimento do nosso aspecto masculino da psique. 

Foi então que lendo um autor junguiano, Robert A. Johnson, daquela famosa trilogia He, She e We, consegui entender o que meu sonho revelava.

Em seu livro 'Feminilidade Perdida e Reconquistada', Robert A. Johnson faz a seguinte observação sobre o feminino e a sombra:


"CONVIDANDO A SOMBRA PARA JANTAR

Repetimos o óbvio ao dizer que a energia feminina é e foi um elemento excluído na cultura ocidental. O que se torna ainda mais complexo para o crescimento e entedimento humanos é que um elemento excluído frequentemente parece uma energia "escura" ou "de  sombra" antes de ser reintegrado. Jung perguntou certa vez: "se você for perseguido por um leão no sonho (perseguição é a forma favorita dos elementos excluídos apresentarem-se nos sonhos), que deverá fazer?"  Ora, vire-se, é claro, e diga ao leão: "Por favor, tenha a bondade de me comer". Então o leão explica que ele é o emissário de Deus e por que você dificultou tanto a tarefa de entregar um presente divino para você."


Veio então a compreensão e a vontade de ficar, de permanecer, de não mais fugir. Da próxima vez, perguntarei à minha mãe Iansã o que ela deseja. Talvez ela tenha o presente da integração psíquica para me oferecer e eu não precise mais fugir de nada, nem de mim. Epa Hey, Bela Oyá! 


Laura Berquó

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