sábado, 27 de setembro de 2025

LITERATURA DE CATEQUESE: JOSÉ DE ANCHIETA E O AUTO DE SÃO LOURENÇO

 


O quinhentismo se divide em literatura de informação e literatura de catequese (ou formação). O Padre José de Anchieta foi, quiçá, o primeiro dramaturgo brasileiro. Uma de suas obras mais famosas é o Auto Representado na Festa de São Lourenço. A peça teatral seguia a divisão em cinco atos, comumente usado nas peças daquele período. Estamos falando da segunda metade do século XVI.

A peça é pertencente ao período quinhentista, sendo classificada como literatura de catequese. O Padre José de Anchieta, hoje considerado santo pela Igreja Católica, foi sem dúvida, uma das figuras mais influentes do litoral brasileiro compreendido entre São Vicente a Porto Seguro. Sobre o processo de beatificação do Padre José de Anchieta, já tivemos a oportunidade de escrever um texto com base em pesquisas genealógicas, em que pelo menos 04 antepassados meus testemunharam  (https://www.carlosromero.com.br/2024/05/testemunhas-do-processo-da-beatificacao.html)

O Padre José de Anchieta também foi grande estudioso do tupi-guarani. O idioma Tupi-Guarani é altamente complexo e nos remete a diversas consoantes inexistentes no português. Mas essa característica foi amenizada pelo fato de ter havido uma "reinvenção", ocasionada pela interferência dos jesuítas de José de Anchieta.

Não há no tupi original as letras (fonemas): b, c, f, h, j, l, q, s, v, x e z. As consoantes existentes são: DJ, GW, K, KW, M, MB, N, ND, NG, NH, P, R, T, TS, TX, W. O Tupi-Guarani possui seis vogais: a, e, i, o, u, y. Essa vogal y se assemelha ao U francês, na forma "do bico", mas sai da nossa garganta. É um som que não existe nas línguas de origem latina. (https://www.carlosromero.com.br/2023/04/dia-19-de-abril.html).

O Padre José de Alencar, na peça teatral Auto Representado na Festa de São Lourenço traz elementos característicos da época que são a batalha e vitória de santos católicos sobre a resistência indígena contra portugueses (no caso, mesmo sendo espanhol, Padre José de Alencar estava pelo lado português), a catequização dos povos étnicos e demonização de seus costumes.

São Lourenço é o padroeiro da aldeia de São Lourenço, sesmaria concedida a Arariboia, mas que anteriormente foi concedida a Antônio de Mariz, meu décimo-terceiro avô, cuja existência é romanceada em O Guarani de José de Alencar. A aldeia de São Lourenço deu origem ao atual município de Niterói. Sobre a aldeia, o genealogista e Pastor Gilson Santos nos traz a seguinte informação:

“No ano da fundação da cidade de São Sebastião, em 21 de novembro, os jesuítas receberam uma imensa sesmaria, cujos limites na baía iniciavam distando “légua e meia” da cidade, em “água a qual se chama Iguaçu”, até uma tapera que se chama Inhaúma”, adentrando “o sertão” a oeste. Até o século dezoito os jesuítas eram, assim, os maiores donos dessas terras suburbanas; da confluência dos atuais Estácio e São Cristóvão até as montanhas da Zona Norte, eles administravam engenhos que produziam o melaço e o açúcar para a exportação, criavam cabeças de gado e exerciam muitas outras atividades em largo espectro. Em terras jesuíticas localizava-se a aldeia de Martinho, onde inicialmente se estabeleceram os indígenas conduzidos por Arariboia, antes de instalar-se a aldeia São Lourenço, do outro lado da baía.” (https://institutopoimenica.com/wp-content/uploads/2022/04/um-advogado-em-sao-sebastiao_o-licenciado-jorge-fernandes-da-fonseca-e-sua-familia.pdf)

 

Na peça teatral, São Lourenço conta com o apoio de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, no seu intento de salvar a aldeia dos demônios que possuem nomes indígenas: Guaixará, o “Rei dos Diabos”, Aimberê e Saravaia, servos de Guaixará. Na condição de “diabos” se regozijavam com o vício da bebida, com práticas antropofágicas, com a poligamia e outras expressões culturais que os jesuítas abominavam, e assim demonizavam os costumes desses povos. No caso da aldeia São Lourenço, o povo étnico que deve ser libertado dos “vícios” apreciados pelos “diabos” da peça é o povo Temininó. Por fim, observa-se ainda na referida peça, que os santos católicos utilizavam nomes de animais da fauna brasileira e seus nomes indígenas como forma de ofensa.

 

Laura Berquó

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