terça-feira, 11 de agosto de 2015

SOMOS TODAS E TODOS MARGARIDAS por Ana Paula Romão (educadora)

Margarida Maria Alves
“Não faz muito tempo, seu moço...Nas terras da Paraíba


Viveu uma mulher de fibra, Margarida se chamou! E um patrão com uma bala

Tentou calar sua fala... “E o sonho dela se espalhou...” (Zé Vicente)
Nos versos do cantador Zé Vicente, Margarida se espalhou, e se espalhou tanto que suas sementes hoje e amanhã brotaram coloridas nos gramados de Brasília! A Marcha das Margaridas, em sua quinta edição, encanta e cantará sua luta para o mundo “...Já faz muito tempo que enriba deste chão e em toda nossa Nação...O pobre era pra lá e pra cá; Lavrador fazia, mas não comia e a miséria era sobrenome do povo deste lugar”. Nos dias 11 e 12 de agosto às margaridas do campo, das florestas, e das águas iram realizar um movimento de massas nunca antes visibilizado pelas lentes nacionais e estrangeiras! Mulheres camponesas do mundo inteiro iram acompanhar as vozes das margaridas brasileiras por telões e informações ao vivo! 


A marcha é por reforma agrária, por soberania alimentar, por mais produção agroecológica, por garantia e ampliação de políticas públicas que desconstruam os padrões patriarcais, mas também é por justiça e democracia!

Margarida vive em nossas memórias! “É melhor morrer na luta do que morrer de fome...” Margarida Maria Alves (1933-1983). Desde 1983, anualmente, os trabalhadores e trabalhadoras rurais passaram a relembrar, no dia 12 de agosto, a figura de Margarida Alves, enquanto denunciam a impunidade dos seus assassinos e a renitente violência no campo, em meio aos discursos em defesa da Reforma Agrária. Desta forma, tornam atual a luta e o martírio dessa líder sindical, chegando a instituir o dia 12 de agosto como o Dia Nacional Contra a Violência no Campo e pela Reforma Agrária.
Há 32 anos foi arrancada, brutalmente, da luta sindical, a camponesa Margarida Maria Alves, líder dos trabalhadores rurais da Paraíba e Presidenta do Sindicato Rural de Alagoa Grande. O seu assassinato provocou profunda indignação em nossa sociedade, traduzida pela onda de manifestações que se propagou pelo estado, com repercussão em todo o país.
Durante vinte e três anos, esta liderança participou do Sindicato de Alagoa Grande e atuou na organização de outros sindicatos de trabalhadores rurais na região da lavoura canavieira da Paraíba, chegando a influenciar nas políticas da Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG). Por doze anos, Margarida dirigiu os trabalhadores rurais de Alagoa Grande. Durante todo esse período, ela conheceu e estreitou relações com outras mulheres camponesas, que se engajariam na luta campesina, tornando-se lideranças sindicais, num espaço historicamente marcado pela pouca participação feminina. 
Margarida foi capaz de despertar na memória de outras camponesas a referência de uma mulher dirigente de espaços marcadamente masculinos. Simbolicamente, refletindo-se no empoderamento da transformação da dor em luta, contra todo tipo de opressão. Como afirmou Rocha, jornalista que acompanhou o crime à época: “Margarida sonhou. Sonhou sempre, cotidianamente, insistentemente, ardentemente. E fez do sonho sal para enfrentar os poderosos. Os que se acham donos da terra, donos do trabalho alheio – escravizando-o -, donos do pensamento e do corpo de outras pessoas, donos da vida alheia”. 
Agora, suas vozes não serão mais caladas. Nem a de Margarida Maria Alves e Maria da Penha Nascimento Silva, ambas já em outro plano, mas vivas em nossas memórias, nem a de Maria da Soledade, Maria do Céu, Maria Preta, Antônia, Josefa, Joaquina e tantas outras que ousaram construir a sua autonomia, reivindicar direitos e buscar mais e mais espaços, do espaço da casa, ao do sindicato, da organização das mulheres, para muitos outros lugares, sem medo de enfrentar os “donos das terras” e a cultura patriarcal, mas demarcando e (re) afirmando a vontade de se construir sujeito da história. 
Outra coisa, essa Marcha das Margaridas vai ser diferente, ah vai seu moço! Porque, às margaridas de toda parte do Brasil vão gritar e dizer em alto bom tom, que nossa margarida Dilma fica!! Sabe porque seu moço, porque não vamos deixar trator arrancar nossa plantação de direitos; Não vamos deixar o latifúndio tomar de conta de nosso voto. O que você não sabe seu moço, é que faz tempo que nós cantamos: “Daqui a algum tempo, seu moço... se a gente não se cuidar, se o pobre não se ajudar... Tubarão engole a alegria, pois o jeito é treinar o braço, para desatar esse laço que amarra a fulô do dia. E quando na roça da gente brilhar as espigas... Vai ter festa e nas cantigas, Margarida vai viver... E quando na praça e na rua florir Margaridas... Vai ser bonito de ver...”. Vai ser bonito de viver!

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