As contradições da extrema-direita no Brasil são para garantir o ódio às minorias. Os projetos de leis recentes que visam proteger o racismo recreativo são justificados pela branquitude. A supremacia branca como projeto, tendo como carro-chefe Santa Catarina e o Rio como reduto bolsonarista, justifica não ver nada demais em injúrias raciais coletivas, capacitistas, misóginas, etc. Até aí estão coerentes com o desrespeito às minorias. Mas falam tanto contra "ideologia de gênero", "sexualização de crianças" e fazem Projetos de Leis para defender humorista que faz piada sobre pedofilia. São contraditórios, porque é da conveniência política deles. No site do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania temos a seguinte chamada:
"Disque 100 registra mais de 17,5 mil violações sexuais contra crianças e adolescentes nos quatro primeiros meses de 2023. Aumento é de 68% em relação ao mesmo período do ano passado, há maior participação da sociedade na mobilização e denúncia. A casa da vítima, do suspeito ou de familiares é o pior cenário, com quase 14 mil violações"
Normalizaram ou fingiram que não viram as piadas de pedofilia, para terem "autorização" para falarem mal de negros e demais minorias. As mulheres brancas burguesas, ou que pensam como tal, acharam normal um comediante dizer que feminista boa é feminista morta, mesmo com os altos índices de feminicídio no Brasil. Afinal, a mulheridade branca burguesa não faz parte dos 99%. Para naturalizar esse tipo de aberração temos dois Projetos de Leis que nasceram do episódio Léo Lins: PL n° 2725 /2025, que revoga dispositivos da Lei Caó de autoria da Deputada Federal Caroline de Toni (PL - SC) e o PL n° 2730/2025 que pretende instituir a Lei Léo Lins de autoria do Deputado Federal Roberto Monteiro (PL- RJ). Querem liberar o racismo recreativo para que possam contar piadas e reafirmar pela jocosidade que bom mesmo é ser branco, sem deficiência e pode até ser mulher, desde que não seja feminista. Uma grande concessão à existência das mulheres. E as crianças no mundo adultocêntrico nem existem, nem têm "lugar de fala". Elas só aparecem quando chegam notícias dos casos de violências extremas. Uma coisa que pontuo é que há uma questão no mundo branco adultocêntrico burguês que não é verbalizado, mas ensinado em lares brancos: "o que se passa em casa, fica em casa". E isso inclui as violências, silenciando para se manter o bom nome do "clã". Enquanto crianças negras são vítimas do mundo adutocêntrico independente de terem lares disfuncionais ou não, a violência contra as crianças brancas é da porta para dentro, até aparecerem Henrys, Isabelas e Leandros. Então, surge a comoção como se a branquitude não soubesse o que se passa em lares disfuncionais, porque o racismo quer passar a ideia que só lares negros são disfuncionais. Não é estranho que a extrema-direita feche os olhos para piadas de pedofilia para poderem voltar a ofender negros. Faz parte da hipocrisia dos lares brancos.
Para concluir, o que vemos e não sabemos se é má-fé ou ignorância projetos de leis que restauram o racismo no Brasil, ainda que para fins recreativos (racismo indireto por meio do humor), uma vez que há inconstitucionalidade também em conformidade com o artigo 16 da Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância , incorporada ao ordenamento jurídico pátrio com status de emenda constitucional que coíbe leis que agravam a situação do racismo.
Laura Berquó
Advogada e Professora Adjunta da UFPB – Campus IV – Litoral Norte. Mestre em Ciências Jurídicas pela UFPB. Membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. Ex-Conselheira Estadual de Direitos Humanos - Paraíba
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