quarta-feira, 6 de agosto de 2025

ECO E MAGNITSKY

 

                                                Eco e Narciso por John William Waterhouse 

 
                    Narciso só se enamora da própria imagem, por mais que Eco saia repetindo apaixonadamente, em perseguição, os dizeres do amado. Eco anda junto no percalço de Narciso, mas ele não olha para ela, porque só tem olhos para si, nem por atenção ao seu esforço. Mas Eco não está convencida e acredita que essa busca pelo amor de Narciso, que só ama a ele mesmo, um dia será amada por quem não tem o que dar.        

O narcisista tem sempre um capacho e Eco faz bem esse papel, reproduzindo mundo afora as formas-pensamentos de seu belo e ensimesmado amor. Assim também é nossa sociedade com nossos pactos narcísicos e a imposição dos que tentam nos transformar em Eco desde sempre, para sairmos reproduzindo pactos narcísicos racistas, sexistas, adultocêntricos, ...   iancófilos, classistas, subalternizantes.

Eco se propõe na nossa realidade a sairmos reproduzindo modelos e modos de vida que nos tiram a própria autodeterminação, mas que servem a outros modelos ensimesmados que não serão capazes de restituir: o afeto, o autoamor, a dignidade. Verdadeiros 'Seis de Ouros” são essas relações de desproporções que empurram ao auto ódio.

A extrema-direita brasileira tem feito bem o papel de Eco. Não é apenas apontado como entreguista. É mais que isso. É falta de autoamor, inconsciente, claro! E Eco sai agora repetindo orgulhosa no descartável e no oco: MAGNITSKY! ...NISTKY!..nistky...! Até não poder ser mais ouvida. Eco é o reflexo de Narciso, mas acha que é dela própria.

Não sejamos Narciso, nem Eco. Sejamos nós mesmos, como propõe o Estado brasileiro, respeitando a autodeterminação dos povos, os direitos humanos, a soberania nacional, nossas riquezas, nossos saberes. No portal do Templo de Apolo, no Oráculo de Delfos, pude ler: “Conhece-te a ti mesmo, e conhecerás os Deuses e o Universo.” Os brasileiros da extrema direita precisam buscar esse autoconhecimento para deixarem de ser a Eco dos norte-americanos, crendo que estão refletindo a própria opinião.

 

Laura Berquó

Advogada e Professora da UFPB. Mestre em Ciências Jurídicas pela UFPB. Ex-Conselheira Estadual de Direitos Humanos da Paraíba. Membro da ABMCJ-PB – Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB Nacional.