sexta-feira, 19 de junho de 2015
DUQUE E BELINHA - Parte I
Eu ainda estou muito triste com o envenenamento de um casal de cachorros da minha rua, dois vira-latas simpáticos que não faziam mal a ninguém e que eram já parte da nossa comunidade. Duque era um cachorro sessentão digamos assim, e vivia na companhia de Belinha, bem mais jovem, mas que era sua companheira de andanças e juntos se achavam os donos da rua. E eram. Os taxistas os adotaram, os moradores os adotaram, davam banho, comida e coleiras. Eles tinham uma liberdade invejável. A noite vagavam pelas ruas próximas, na hora do almoço estavam próximos aos restaurantes e às 5 da manhã quem colocasse os pés na rua via esses dois madrugueiros voltando de mais uma longa noitada. Eram felizes. Infeliz de quem os envenenou e matou. Mas isso tudo me fez lembrar uma história que minha mãe me contou. O Orixá Omulu/Obaluaê é o dono da terra. Ele é dono de tudo, porque a terra nos dá tudo, desde o alimento até a última morada. Por isso, Omulu/Obaluaê também é dono da vida e da morte. Orixá que traz e leva as doenças, é associado à peste e por isso houve seu sincretismo com São Lázaro que apresenta várias chagas e cachorros lambendo suas feridas. Os cachorros são protegidos de Omulu/Obaluaê. Mas Omulu/Obaluaê também é rancoroso e vingativo, características herdadas por muito de seus filhos inclusive. E aí que entra a história que minha mãe me contou. Lá pelos idos dos anos 70 no Rio de Janeiro, havia um filho de Omulu/Obaluaê muito mau. Acredite, contrariando a natureza dos filhos de Omulu, este da história na vida real não gostava de cachorros. E o tal filho de Omulu implicava com um cachorro do vizinho que nada fazia de mau a ninguém. Um dia teve a ideia de colocar uma bola de carne com veneno para o pobre cachorro comer. Colocou a carne envenenada no quintal, que não era separado por muros entre os vizinhos, próximo ao cão e se retirou. Pasmem! O cachorro não comeu a carne. Qual não foi a tristeza do filho de Omulu quando viu que seu filhinho de apenas dois anos, ao brincar pelo quintal encontrou a bola de carne e como toda criança dessa idade enfiou na boca e comeu? Horas depois, a criança padeceu no colo do pai que já se achava em pratos e desesperado.
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