Massagear ego do governador custa caro ao erário
Executivo da Secom garante, no entanto, que revista em quadrinhos foi encomendada e paga pelos irmãos de Ricardo
Depois da apoteótica inauguração do Memorial Ricardo Coutinho na Fundação Casa de José Américo na última segunda-feira (19), em João Pessoa, massagens e homenagens ao ego do governador estendem-se agora a contar a sua história em quadrinhos.
O gibi ‘Ricardo Coutinho em Quadrinhos’, dos mais recentes lançamentos de A União Editora, parece seguir a mesma trajetória de culto à personalidade de governante às custas do erário. Afinal, tanto a Casa de JA quanto jornal e gráficas oficiais são financiados com dinheiro de impostos que o Estado pega no bolso dos cidadãos ou nos cofres das empresas.
É sempre possível alegar – como deverão fazer assessores e aspones midiáticos do governante, regiamente pagos pelos cofres públicos – que o Memorial RC apenas veio se juntar a outros de antecessores que também se eternizaram nas paredes e armários do belíssimo palacete que adorna a Avenida Cabo Branco. Ou que a revistinha colorida sobre o novo super-herói da praça faz parte de uma coleção preexistente ou foi bancada por pessoas dos afetos do homenageado.
Mas, peraí… Não era ou não é esse mesmo Ricardo que se jacta de ser o oposto ou no mínimo diferente ao máximo de todos aqueles que governaram a Paraíba antes dele? Não era ou não é esse mesmo Ricardo que zerou e refundou a Paraíba para legar aos seus concidadãos um modo de ser e administrar a coisa pública segundo os mais caros princípios republicanos?
Será que o forçado e esfolado contribuinte do Tesouro Estadual deve abrir exceção para o governador da hora? Só por que ele se acha o pipoco do trovão em matéria de gestão? Ou será porque asfaltou a pincel dezenas de estradas carroçáveis do interior do Estado, enquanto a malha viária antiga castiga vidas humanas e suspensões automotivas que por ela sacolejam cotidianamente?
Vai ver é por conta de novos hospitais e escolas, que fazem a festa de quem constrói e de muita gente boa tão midiotizada pela propaganda governista que não liga para tudo o mais. Não liga, por exemplo, se o hospital ou a escola que já existe está de fazer pena ou se os indicadores de saúde e educação públicas da Paraíba são de fazer vergonha.
Nessa pisada, desse jeito, não importa um tico – também por exemplo – se a segurança pública é privilégio restrito às mordomias da Granja Santana, enquanto o resto da população vive à mercê dos ataques da bandidagem e dos golpes de estatística e publicidade com que o governo estadual, ao mesmo tempo em que enaltece as realizações do governante, acreditar estar enfrentando e vencendo a crescente violência no Estado.
Diante do exposto, como diziam antigamente lá no Ministério Público, é de se perguntar “em que prateleira da Casa de Zé Américo ou birô d’A União guardaram o princípio constitucional da impessoalidade que submete e vincula todo e qualquer gestor do bem coletivo?” Se alguém der uma busca, procure direitinho, por favor. É bem capaz de encontrar, junto, o princípio da moralidade, escondido dentro da mesma gaveta ou pasta.
O OUTRO LADO
Antes de publicar este artigo, às 10h42 deste sábado (24), desde 9h08 o blogueiro procurou saber do jornalista Sebastião Lucena, secretário executivo da Secretaria Estadual de Comunicação Social (Secom), se havia explicação para o gibi ‘Ricardo Coutinho em quadrinhos’ publicado por A União.
Duas horas após a postagem, precisamente às 12h43, Lucena informou via WhatsApp que a revista foi encomendada e paga pelos irmãos do governador. Comuniquei ao secretário que faria a devida utilização da matéria e solicitei cópias de documentos que comprovem contratação e pagamento dos serviços da editora do Estado pelos Coutinho.
Além disso, o espaço do blog fica aberto ao governador, aos seus irmãos ou ao próprio secretário para qualquer outra manifestação sobre o assunto.
- Atualizada às 15h"