Quantas
vezes nos deparamos com as imagens de santos e não questionamos o
simbolismo de seus trajes, de seus pertences e outros símbolos que os
acompanham. Pois todo santo serve como caminho para uma verdadeira
iniciação, seja pela conversão e reintegração com o divino, que muitos
experimentaram, seja pelos elementos que trazem em suas representações.
Assim, por exemplo, temos o famoso Santo Guerreiro, São Jorge, cujo
símbolo de força, coragem e virilidade nos remete a uma luta atemporal
que, embora de forma inconsciente, conseguimos apreender. A imagem do
referido santo, ora tido apenas como mito, contestando-se a sua
existência, traz vários símbolos que passam a ser, agora, analisados.
Inicialmente temos a figura do cavaleiro, que simboliza o herói, montado
sobre um cavalo, este representação do ego. Logo, o ego, que nesse caso
corresponderia à natureza mais primária no homem, deve ser dominado
pelo próprio homem. Montar sobre o próprio ego, seria então uma prova de
heroísmo, de auto-domínio. O próximo passo é a luta com o dragão. Este
simboliza as forças psíquicas que atrapalham o processo de
autoconhecimento do ser humano. Uma vez vencido o dragão, o homem
consciente passaria a experimentar a sua integração com algo superior,
simbolizado pelo castelo. Apesar da imagem de São Jorge não trazer um
castelo, todo herói que se preze, após matar o dragão, irá ao castelo
encontrar-se com sua amada, a princesa, esta a outra face do Eu, cuja
união com o herói, representado pelo cavaleiro, permite o contato do ser
com toda a sua potencialidade, gerando equilíbrio psíquico. Nosso Santo
Guerreiro é na verdade o arquétipo do buscador, pois a guerra também
tem sua correspondência com as coisas belas e divinas. Lembrando de
outras guerras descritas em livros sagrados, como o Bhagavad-Gitã,
entendemos que o simbolismo do guerreiro é um chamado para todos aqueles
que buscam vencer as batalhas do inconsciente para poder então
experimentar uma verdadeira sensação de unidade.
LAURA BERQUÓ
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