quarta-feira, 15 de julho de 2015

O QUE VALE A PENA?

Fernando Pessoa afirma em “Mar Português” que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. A coragem é sem dúvida uma das virtudes em falta. Por isso, fica difícil saber o que realmente vale a pena nas ações das almas pequenas. A coragem não é atributo de quem já possui poder, porque há aqueles que possuem força, mas não possuem coragem. A coragem não é atributo de uma nação, porque as pessoas agem e pensam diferente. A coragem é marketing para aqueles que de fato não a possuem, porque quem é corajoso não precisa dizer. Ninguém ostenta um vício, pois teme ser acusado, ninguém se denuncia. Os “loucos”, os “autênticos” são pessoas corajosas, vistas com desdém por aqueles que não sabem de fato o que inspira certas pessoas. Existiram aqueles que se imortalizaram pela coragem. Há aqueles que não são lembrados justamente pela coragem que tiveram, para que não sejam imitados. Há homens que apelidam a coragem das mulheres das formas mais grosseiras, quando na verdade eles invejam a coragem delas. Há pessoas que negam tudo às outras por falta de coragem. Há pessoas que a tudo cedem por falta de coragem também. Pois, eis o que eu li sobre a coragem: coragem é igual a coração! Do latim: cor, cordis. “Sursum Corda”: Corações ao Alto! Coragem e coração. A coragem nasce do coração. O habitat da coragem é o coração. O mesmo habitat da alma. Talvez por isso todo corajoso verdadeiro traga em si algo de emocional, que a razão não explica. Ensinaram-nos os egípcios que a sede da alma é o coração. Conforme o Livro dos Mortos, em vida, todos deveriam agir de acordo com a verdade. Mas a verdade, assim como a coragem, independe das épocas e civilizações. O nome egípcio para verdade era Maat, que também atendia à concepção de justiça divina. Por isso, ao morrer, o indivíduo, antes de ser permitido ao reino de Osíris, fazia sua confissão a Deusa da Verdade, a Confissão a Maat, entregando seu coração para ser pesado, devendo ser mais leve que uma pena. O temor era que o coração se erguesse, testemunhando contra o seu dono. Os verdadeiros reformadores da humanidade falavam com o coração e enfrentaram seus opositores com coragem, sem maltratar os fracos. Com estes demonstraram a compaixão. A coragem é, portanto, instrumento contra a soberba, contra a mediocridade de quem oprime. Logo, a coragem não é patrimônio de um grupo que tem força. Para impor suas opiniões e interesses não precisa de coragem. A covardia, própria do desequilíbrio de forças, encarrega-se disso. E talvez se explique o porquê de pessoas aparentemente sem força e tidas pelo social como frágeis e inofensivas possam ter “arroubos” e serem taxadas de desequilibradas, quando o que possuem é coragem. Como nos diz a Bíblia: “a boca fala do que está cheio o coração!” (Lucas 6:45).
Laura Berquó

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